(…)
Tudo isto é mais complexo do que parece. Tu continuas no teu silêncio e eu nas minhas
inquietudes…
A partir do momento em que a consciência é desperta, o
processo é irreversível.
Objetivo: caminhar de regresso
ao Paraíso.
Primeiro passo: iniciar o caminho com esse propósito.
Mas… Que caminho...?
Na verdade, sabes, deparo-me com uma multitude de caminhos.
Podias dizer-me pelo qual me guiar, mas não, manténs-te em silêncio.
Pensava que assim que desse o primeiro passo, o caminho
ficaria definido. Mas não; se antes eu tinha alguns caminhos, agora tenho
muitos.
Apercebo-me das ofertas, umas mais fantásticas que outras,
algumas exóticas...
Contudo, sempre, sempre, muito esotéricas. Sinto-me perdida!
Pelo caminho vendiam-me milagres…
Apresentavam-me deuses, que mais pareciam demónios, e
demónios endeusados. E como numa feira de leilões, com mais ou menos “encomendas”
e “ofertas”, sob a sombra de ‘velas de néon’,
eu mergulhei na procura do caminho.
“A necessidade de acreditar
em Deus
não é mais do que um impulso
genuíno
de libertar/ revelar um código
subtilmente gravado
nos nossos genes.”
Onde andava o meu Deus?...
E eu, viajante solitária, numa rua da feira, tentava
manter-me no centro, sem me aproximar demais das margens daquele rio escuro,
que eram aquelas ruas. Fui tentando equilibrar o meu barco.
Otimista como sou, fui observando e pensando, que tudo o que
se passava na margem, de cada lado da rua, não poderia ser tão mau quanto
parecia, e dizia para mim:
- Não! Isto não é assim, isto não pode ser assim! É
certamente fruto da minha imaginação!
Cheguei mesmo a pensar se não estaria a ficar louca! Tu
sabes o quanto me deixo levar pela minha imaginação… O mal não podia ser tão
grande. Sabes, o meu Deus, aquele em que eu acreditava, não iria permitir nada
assim... Ou será que até o meu Deus era fruto da minha imaginação? E se estava
errada? Talvez me encontrasse perdida no meio daquela rua, daquele rio de águas
turvas... Talvez não existisse o meu destino, o meu propósito.
- Eu não era parte daquilo, sabes?! Não! Tinha de
haver mais, algo mais onde eu pudesse pertencer. Sim, porque eu existo! Ou
não?!...
Enquanto isso, eu continuava. Por vezes era atraída para a
margem que me oferecia momentos fantásticos, coisas fantásticas, tudo
fantástico, fantástico, fantástico... E eu pensava: “Devo pertencer aqui! Se
pertenço aqui, então estarei no caminho certo!”
Mas não!
Algo estava incompleto.
Faltava-me a essência, aquilo por que eu ansiava e que de,
algum modo, me daria a esperança de saber que ‘Eu existo’.
É que essa história de “Penso logo existo” também não é
muito verdadeira; depois de observar tudo o que se vendia nas margens da rua
onde estava e nas vezes em que era atraída para a margem, ‘vendiam-me pensamentos’.
Incrível não é? (do que o demónio é capaz…).
Por vezes, eu já não sabia se o que pensava era meu, ou se
era só os pensamentos que me tinham vendido na margem.
- Onde estava o meu Deus nesses momentos? Por favor!...
No meio de toda aquela parafernália de luzes, deuses e
incensos, o meu Deus devia estar por ali, visto nunca ter deixado de o sentir,
dentro de mim.
Ele, o meu Deus existia na minha consciência. Esta pernoita
no meu tálamo como um indicador de transgressões, manifestando-se em cada uma
das minhas doenças (as doenças, não são
mais do que o reflexo das nossas próprias transgressões), mas também como
arquivo das minhas lembranças.
Acredito que esta justiça orgânica, nos torna cada vez mais
conscientes, podendo tornar-nos mártires no percurso do plano de Deus e
conduzir de novo o homem ao Paraíso - “Venha a nós o vosso reino” – e que nessa
inevitável guerra entre Deus e o maligno, possamos ser intérpretes com
consequências drásticas. Como diz Tzu Hang, “A árvore mais forte poderá ser
derrubada.”.
“Naquele tempo,
surgirá Miguel, o grande príncipe, que protege os filhos do teu povo. Será este
um período de angústia tal, que não terá havido outro semelhante desde que
existem nações até àquele tempo. Ora, entre a população do teu povo, serão
salvos todos os que se encontraram inscritos no livro.”
(Daniel:12-1)
Quando estava muito cansada pensava que o melhor era ficar
por ali, na margem, na beira da estrada, mas sabia que ele deveria estar um
pouco mais adiante. E assim, continuava de novo, com alento renovado, com o
mesmo entusiasmo e a mesma determinação do primeiro passo.
Talvez não fosse a única no meio da rua, no meio daquele rio…
Mas aqueles que tinha encontrado por ali foram, de alguma forma, identificando-se
com as ofertas que se apresentavam nalgum ponto do caminho.
Não sei se ficaram por lá, ou se encontram um caminho mais
rápido do que o meu, o que sei é que eu continuei sozinha.
E nesta minha existência, entre Deus e o Diabo, quisera ser,
eu mesma, uma quimera.
“Se soubesse
de que seria feito o meu sonho,
sonharia.
O sonho, desfeito por defeito,
se não fosse perfeito,
não seria sonho.
Mas, se soubesse do que era
feito,
sem defeito
tão perfeito seria
o meu sonho!”
E tu, continuas no
teu silêncio.
23h 22m – Mensagem
enviada
Judit